segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Por que as aposentadorias do INSS tem valor tão baixo?

Exceto aquelas pessoas que vivem apenas com um salário mínimo, todos os demais, quando se aposentam, reclamam que o valor de seu benefício é muito baixo. É fatal: a pessoa compara o valor do benefício com seus últimos salários, e constata a redução gigantesca em sua renda. Consequentemente, fica indignado! "Que absurdo! Trabalhei tanto para receber esta mixaria!" "Terei que continuar trabalhando, porque esta aposentadoria não vai dar para nada!", são as principais reclamações que ouvimos destes recém-aposentados. O mais triste é que é difícil explicar para o segurado o que acontece: fica bem mais fácil dizer que o governo é ladrão mesmo, que tem muito roubo no INSS, e a desculpa mais esfarrapada de todas: que há um déficit enorme na Previdência Social (quem foi meu aluno sabe que este déficit é mentira).
Sei que não vou agradar à maioria com este post, mas ele é necessário, até para que a gente possa mostrar aos nossos clientes o que de fato acontece.
De princípio, precisamos entender que aposentadoria não é "bondade" do governo: nós PAGAMOS para depois receber, é um negócio de compra-e-venda. O que gera a aposentadoria não é o fato de se trabalhar determinado tempo, e sim o fato de se CONTRIBUIR determinado tempo. A Lei de Benefícios da Previdência Social começa com o seguinte texto: "Art. 1'º A Previdência Social, mediante contribuição...". Portanto,  a contribuição é o fato gerador da aposentadoria, e não o trabalho.
O aposentado, então, mudará sua reclamação e me dirá: "Eu contribuí durante quase 40 anos para receber esta mixaria de aposentadoria...". E eu pergunto: Você contribuiu com QUANTO?
Aqui está o segredo: como todos sabemos, dinheiro não dá em árvore, e também não se multiplica. Se você colocar uma moeda de 1 real no cofre, trancá-lo, e abri-lo um ano depois, continuará tendo apenas uma moeda de 1 real lá dentro; ou seja, o dinheiro não se reproduz sozinho. Se você coloca esta moedinha no cofre do INSS, ela também não vai se multiplicar: continuará sendo 1 real.
Vamos, então, pensar em uma situação bem simples: João passou 35 anos recebendo cinco salários mínimos, e contribuindo para a Previdência Social sobre estes cinco salários. Vamos fazer esta simulação com os valores de hoje, só para fins didáticos.
5 salários mínimos = R$ 622,00 x 5 = R$ 3.110,00. Esta é a renda mensal de João.
Ele sofre desconto de 11% sobre sua remuneração em favor do INSS: R$ 3.110,00 x 11% = R$ 342,10. Portanto, mensalmente ele paga ao INSS o valor de R$ 342,10.
Seu empregador, por sua vez, também contribui sobre o salário de João, com outros 20%: R$ 3.110,00 x 20% = R$ 622,00.
O total colocado no cofre do INSS, mensalmente, em nome de João, é de R$ 964,10 (R$ 342,10 + R$ 622,00).
Sabendo que o ano tem 12 meses, e que o 13º salário também tem desconto previdenciário, anualmente entra no cofre do INSS, em nome de João, o total de R$ 12.533,30 (R$ 964,10 x 13 meses).
Após exaustivos 35 anos de contribuição, entrará no cofre um total de R$ 438.665,50 (R$ 12.533,30 x 35 anos).
Consideremos que João se aposente aos 60 anos de idade. As estatísticas atuais apontam para uma expectativa aproximada de vida do brasileiro de 80 anos: portanto, ele ficará uns 20 anos recebendo sua tão merecida aposentadoria.
Vamos lá: ele acumulou no cofre R$ 438.665,50. Vamos dividir este valor pelos 20 anos que ficará recebendo: R$ 438.665,50 / 20 = R$ 21.933,28. Este é o valor que João poderá receber durante cada ano de sua 'sobrevida'. Sabendo que ele receberá 13 parcelas durante o ano (uma parcela em cada mês, mais o 13º Salário), teremos uma aposentadoria mensal de R$ 1.687,18 (R$ 21.933,28 / 13 parcelas).
Recapitulando: João recebe, trabalhando, cinco salários mínimos, o que dá R$ 3.110,00. Ao se aposentar receberá praticamente a metade disso, ou seja, R$ 1.687,18. "Um verdadeiro absurdo", dirá João. "Eu que trabalhei tanto, paguei tanto, vou ter que passar meus últimos anos com metade da minha renda!"
Porém, apurando o quanto ele PAGOU, o valor deixa de ser tão ruim...
Alguém vai reclamar que eu não apliquei juros neste dinheiro que ficou "parado no cofre do INSS". O problema é que este dinheiro não fica parado lá dentro: por causa de rombos provocados por roubos e desvios no passado (principalmente durante o regime militar), hoje o INSS funciona em regime de "repartição simples", ou seja, assim que o dinheiro entra no cofre, ele já é retirado para pagar os benefícios atuais. A isso dá-se, também, o nome de "pacto de gerações", ou seja, o dinheiro que nossa geração deposita no cofre é sacado para pagar as aposentadorias de nossos pais, e as nossas aposentadorias serão pagas pelo dinheiro que será depositado por nossos filhos.
Tem jeito de mudar isso? Sim: João deveria ter feito uma previdência privada, para complementar sua renda quando aposentado; assim, receberia do INSS estes R$ 1.687,18, e da previdência privada ele receberia o complemento, que lhe garantiria uma boa vida na aposentadoria. Porém, como a maioria dos brasileiros, João não fez isso... Que pena!
Um abraço, e até a próxima!

7 comentários:

  1. Não é por acaso que sua fama o precede....!!! Excelente explicação, com uma didática simples e esclarecedora......se me permite, vou adotar esse seu exemplo para passar aos meus clientes..... Parabéns!!
    Roseli Jaworoski de Campos
    BH/MG

    ResponderExcluir
  2. Parabéns, amei sua explicação. E mais importante, entendi como é essa saga do salário da aposentadoria.
    Eddie Lilian
    Franca/SP

    ResponderExcluir
  3. Eddie, obrigado! Fico feliz por ter esclarecido a confusão!
    Roseli, Fico contente que tenha gostado, e fique à vontade para explicar aos teus clientes: foi exatamente este o meu objetivo!
    Abraços!

    ResponderExcluir
  4. Maravilha, professor! Achei seu post no facebook, compartilhado por um amigo. Adorei a explicação. Estou me "embrenhando" por esta área há pouco tempo e sempre procuro formas de levar esclarecimentos simples e práticos às pessoas mais necessitadas. Vou continuar pesquisando seus posts. Obrigada e continue nos brindando com suas esclarecedoras explicações. um abraço carinhoso.
    Ana Corbari - Joaçaba - SC

    ResponderExcluir
  5. Conheci hoje seu blog. Adorei! Os temas são desenvolvidos com muita clareza e de forma didática. Muito útil para quem, como eu, está iniciando uma especialização na área previdenciária.

    Elisabete - Mogi das Cruzes - SP

    ResponderExcluir
  6. Gostei muito da explicaçao, mas se eu viver somente 5 anos, foi justo, ja que funciona como uma pupança deveriamos ter o direito de sacar conforme a necessidade e consciencia de este valor ira acabar ai ja seria um problema de administraçao, acabou, acabou azar de quem nao administrou bem. Mas se torna justo, porque tem aposentado que nao dura os 20 anos de expectativa e ai pra onde vai o restante da minha poupança? Obrigado.

    ResponderExcluir
  7. Pois é, caro "Anônimo": no final do texto eu falo sobre a "repartição simples". Isto significa que se o aposentado sobreviver apenas cinco anos, o restante da poupança será usado para pagar a pensão do dependente que sobreviver. Não tem sobreviventes? Será usado para pagar outros benefícios de pessoas que contribuíram por menos tempo, como aposentadorias por invalidez, por exemplo.

    ResponderExcluir