quinta-feira, 15 de abril de 2010

Reflexos da Crise

Em 2008, como efeito de uma série de erros econômicos e financeiros, o mundo entrou em uma crise, talvez uma das maiores da história. A frouxidão da legislação estadunidense contribuiu para a malfadada recessão. Como os EUA ainda são o coração financeiro e econômico do mundo, fatalmente os problemas tiveram reflexos em todos os pontos do planeta. A União Europeia viu seu Euro desabando junto com outras moedas, mostrando ao mundo que ainda não estão preparados para substituir o Dólar. No Brasil, o primeiro ato do governo foi dizer que a tsunami que vinha atacando o mundo chegaria aqui apenas como uma marolinha, em mais uma de suas metáforas. Diga isto aos milhares de trabalhadores que foram demitidos no pólo industrial de Manaus... Eu estava lá no início de 2009, e se dissesse que não havia crise seria linchado.

Como consequência de todos os problemas econômicos vividos no Brasil desde a década de 1970, o país tem hoje uma legislação rígida, firme, que impede especuladores de fazer o que foi feito nos EUA, impedindo que por aqui ocorram problemas como os que desencadearam a crise mundial. Vale lembrar que esta proteção brasileira vem sendo desenvolvida há décadas, e foi consolidada no final da década de 1990.

Porém, o governo brasileiro reconheceu que, no auge da crise, apenas metáforas não conseguiriam segurar a situação. A base de proteção era solida, mas o dinheiro estava escasso, e sumiria facilmente das mãos das pessoas. Então, o Ministério da Fazenda resolveu abrir mão do IPI para incentivar as vendas. Para aqueles que pensam que o país abriu mão de receber tributos, é só ver as reportagens sobre os recordes de arrecadação da Receita Federal do Brasil: o IPI não trouxe qualquer prejuízo à arrecadação federal. Mas, o que é a ação sem uma boa propaganda? Então o presidente da república convocou o povo para gastar. Incentivou todos a trocar de carro, comprar móveis, linha branca. Chegou a se cogitar uma “bolsa-celular”. E o povo atendeu, e as vendas ficaram aquecidas, segurando a situação econômica do país, dando-lhe destaque mundial.

Agora o mundo está voltando ao normal, empresas se reequilibrando, países se reorganizando. A desordem anterior cobrou seu preço com a crise; este preço foi pago, com muito suor e sangue, e as coisas voltam ao seu curso normal. Mas, e o Brasil?

O brasileiro gastou, comprou, trocou de carro, de geladeira, de guarda-roupa, e agora está com um monte de carnê nas mãos para pagar. No próximo ano este povo não vai gastar, pois estará pagando as contas feitas por ordem do presidente da república, e então o Brasil começará pagar o preço da inconsequência. Se as exportações estiverem indo muito bem, ótimo; porém, se estiverem como está hoje, as vendas para o exterior não serão suficientes para segurar a economia nacional e o Brasil, então, entrará em uma recessão profunda. A produção tenderá a diminuir, pois não terá para quem vender, já que o povo estará sem dinheiro por causa das dívidas contraídas anteriormente. Gêneros de primeira necessidade continuarão vendendo, pois as pessoas precisam comer e se vestir; entretanto, os demais bens ficarão para segundo plano. Não havendo comercialização, os trabalhadores que produzem tais bens perderão seus empregos, e então a crise chegará ao Brasil. E então, em mais uma metáfora, o atual presidente dirá que no seu mandato não teve crise...

Quero estar muito errado, e peço a todos que torçam por isso. Mas, não consigo enxergar outro cenário.

Um abraço, e até a próxima!